Quantos me vêem?

domingo, 26 de maio de 2013

Queima. Arde. Apaga-te.




Vi, na minha secretária, duas cartas endereçadas a mim.
Cartas que se intitulavam ser de amor. Tudo o que lhes via era ódio.
Cartas escritas a lápis. Um ultraje para uma carta de amor.
Porque o que é eterno deve ser escrito a papel com caneta.

Antes lia-as com um gosto sereno, porque o verdadeiro amor, do rapaz de me as endereçou e que dizia amar-me assim, não me tocou.
Agora leio-as com raiva. Com a raiva de quem reconhece uma relação falhada e sem futuro.
8 meses de pura brincadeira.

Não as quis ler mais. Não as quis vivas.
Na noite anterior, o fogo tomou conta dessas cartas, negando totalmente a sua existência.
O fumo e o passado dessas cartas intoxicou-me uma última vez.
Queimado o papel mas persistindo o fogo, a água fria trata de apagar todos os vestígios.

Qual simbolismo este, cujas cartas foram, na sua maioria, queimadas ás mãos daquele que detém agora o amor verdadeiro que antes dele não tive. Uma coisa não dá lugar a outra, mas dá um novo lugar, uma nova história. Uma nova vida.

Esta nova vida nasce, agora cresce saudável. Quando morrer, que eu morra com ela.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Gemidos


A boca não se mexe. Os olhos falam.




É simples dizer que se pode abrir a boca e soltar um gemido. Mas fazê-lo? Não.
Todos me ouvirão. Alguém perceberá a causa?
O que faz com que um gemido seja um gemido é que haja alguém que o solte e alguém que o oiça.
Tanta gente a querer soltá-los e ninguém a querer ouvi-los...

É agoniante.
Um desequilíbrio assim e o Inferno passa a ser na Terra e não debaixo dele.
Se não é que já o seja.

Pobres almas a gemerem pela sua salvação... e ninguém que nos oiça!
Rendemo-nos calados, vencidos pela agonia que nos enche o peito!
Destruímo-nos para divertimento dos nossos inimigos!
Se gritarmos, o nosso castigo será pior! Sair um peso de cima para logo em seguida caírem dois mais pesados... o silêncio que nos acuda!

Cessem todos os sofrimentos naquilo que se considera dizer mais do que mil palavras.
E no dia em que o nosso silêncio eterno chegar, não pensem que chegou em vão.