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quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Má Mentirosa, Grande Traidora.


O vento soprava quase como um murmúrio.
Segredava algo aos meus ouvidos. Como um prenúncio.
Receei que tal prenúncio chegasse aos ouvidos errados.
Espero. Passará da hora combinada?

Ei-lo.
- Olá.
Um beijo leve nos seus lábios.
- Olá fofo. Como foi o teu dia?
E, após esta pergunta, chovem quase sempre desabafos sobre o trabalho, coisas sobre o que ele faz das quais não entendo, e reuniões com tais pessoas importantes que para mim não passam de meras pessoas.
- E o teu dia?
- Normal.
A minha habitual resposta. Para não falar das emoções sentidas quando faço aquelas coisas com...
- Vamos jantar fora?
- Er... sim, porque não?
Não. Porque hoje era a minha noite.
Inventaria uma desculpa qualquer para sair desta situação, tudo para estar com...
- Onde queres ir?
- Tu é que sabes, fofo.
Farta desta mentira. Não o suporto. Um dia terei de revelar, sim.
Mas é tão excitante fazer isto assim, fugir para ter com...
- Mas, primeiro, quero algo.
- O quê?
- A ti.
Oh, não. De novo terei de fingir os gemidos. Nem tenho prazer nenhum com ele. Terei de novo que pensar em como me sinto nas coisas que faço com...
- Hoje não me sinto com disposição, amor. Fica para outra altura, sim?
- Está bem.
Desta me safei.

Fomos jantar.
O telefone toca, antes mesmo de tocar na sobremesa. Uma mensagem.
"Estou à tua espera fofa."
Respondo:
"Estou a tentar livrar-me do traste do meu marido."
"Pena. Ficarei à tua espera. Rápido, quero-te."
- Fofo, não vou poder acabar o jantar. Chamam-me do trabalho, reunião de emergência.
A desculpa mais esfarrapada de sempre.
- Oh. Estava a gostar tanto... Tens ideia de que se trata essa reunião?
- Er... Não sei. Ninguém sabe. Adeus.

A minha excitação sobe, e acelero na estrada.
Chego rapidamente ao meu destino. A sua casa.
- Então, só agora?
- Demorei?
- Não, sua tola. Entra.
Entrámos aos beijos. O fogo entre nós não parava de arder.
Roupas pelo chão, corpos nus numa cama onde celebrávamos assim a atracção que sentíamos.

O meu receio realizou-se. O prenúncio chegou aos ouvidos errados.
O meu marido desconfiou da forma suspeita com que saí no nosso jantar.
De tão focada que estava em chegar ao meu destino, mal reparei que ele me seguia.
Estranhou ter parado à porta de um prédio e não do meu trabalho.
Escutando atrás da porta do apartamento, ouviu o que não devia ouvir.
Arrombou a porta. Julguei-me condenada.
Ao ver o cenário em que nos encontrávamos, ficou chocado.
- Estás a trair-me... com uma gaja?
- Estou.

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