Quantos me vêem?

quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Metamorfose


Esqueçam tudo o que está antes deste texto.
Se desejam saciar a vossa curiosidade, força, não impeço.
Mas isto é diferente.

Venho falar-vos de alguém que se ausentou da realidade, se esqueceu dela, e que sofreu na ignorãncia. Um alguém que se tornou pátetica. Esse mesmo alguém que agora, depois de aguentar as consequências dos seus actos estúpidos e ignorantes, jurou nunca mais passar por tal tormento. E que novamente se prepara para lutar.

A metamorfose acontece a todo o ser.
E a metamorfose humana, creio ser a mais bela e eufórica.
Mas tal coisa pode ir para um lado negativo.
Creio que dizer "foi pura estupidez" é a explicação mais correcta para uma metamorfose ter efeito negativo. Porque se o objectivo dela é ser algo novo e melhor, só com estupidez se altera uma coisa assim. Aparentemente somos o único ser que consegue fazer tal proeza.
Quando o efeito é negativo, a estupidez personifica-se no ser em questão.
Fisa-se pateta, faz-se patetices, diz-se coisas estúpidas sem lógica e sem o mínimo de inteligência, é-se ignorante e é-se feliz nessa ignorância. A estupidez pega-se como uma doença e devia ser considerada tal. (Venham lá dizer-me que estou a exagerar, ou não entendem sarcasmo virtual?).
Basta um ficar (ou ser, alguns nascem assim. É triste.) estúpido e o resto acompanha essa estupidez alegre, e é tudo estúpido e viv'á estupidez!
As consequências são devastadoras.
Quando se acorda para a realidade e se apercebe que fomos estúpidos, levamos com a realidade em cima e não há tempo de preparar um fato bonito para a ocasião. Simplesmente leva-se um abre-olhos tão, mas tão grande, que nos apetece enterrar bem abaixo no chão tal é a vergonha. É como acordar de um sonho lúcido e perceber que andámos como sonâmbulos e ao acordar ficamos incréludos de que aquilo foi autoria da nossa estupidez.

Mas (há sempre um "mas", que emgraçado...), para quem for perspicaz e inteligente para o fazer, consegue voltar a metamorfosear-se para um lado positivo. Chamo-lhe o "efeito arco e flecha", uma metáfora em que a seta nos personifica, e que para chegar a um objectivo e de forma rápida, temos de ser puxados para trás um pouco para dar incentivo e balanço e nos projectarmos a diante.
Quando isso ocorre, acordamos e ficamos como que curados da estupidez e estamos a levar em cima com a relaidade. O que fazer nessa situação? Lutar.
Remediar o mal feito, e ao acabar jurar não mais voltar a cometer tal erro.
Mas não é fácil.
Perde-se um pouco de quem éramos na nossa estupidez. E tanto se recupera, como quem vai mais além e se melhora. É aí que a metamorfose se torna bela.
Voltamos a ser quem éramos, e a história acaba aqui, ou melhoramos quem somos, e isso é a metamorfose na sua plena e bela forma.
Existe determinação, acordamos, declaramos guerra a quem nos quiser voltar a por naquela situação, somos nós mesmos e quem não gostar que se vá embora. Somos nós novamente, e de nova forma.

Prefiro acreditar no "efeito arco e flecha", onde aceito que o negativo é necessário para fomentar o positivo e pensar que os efeitos do negativo não foram em vão. Uso o conhecimento, doloroso ou não, a meu favor. E, tal como um copo cheio de água suja a necessitar de nova água, deito fora tudo o que conhecia antes e preparo espaço para novo conhecimento.
Em suma, metamorfoseio-me.

Estou de volta.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Vive e Deixa Morrer


Rapariguinha estúpida.
Sempre a errar no mesmo.

Não sei como não enjoei.
Andar de carro lembra-me sempre do sabor do que comi umas horas antes. Mas com ácido.
Este caso foi excepção e não entendo porquê.
A longa e interessante conversa? A companhia? O porquê e o destino de onde vou?
Ou tudo isto?

Pedi para parar na praia que ali estava.
De noite, a Lua reflectia a luz no mar. O cheiro a maresia, o frio, a escuridão e apenas aquela luz, como um guia. Que euforia!
Amei tanto o que via que quis aproveitar todo o seu esplendor em mim.
Rebolei na areia perante aquele homem estupefacto, que se ria e me dizia o quão maluca era.
 - Alguma vez quiseste soltar a tua dor gritando, e não podias? - perguntei-lhe.
 - Porque queres saber?
 - Se eu gritar aqui, alguém me ouve?
 - Não, mas não o vais--
AAAAAAAH!
Gritei todas as minhas dores e angústias ali. Gritei até me querer faltar a voz.
Estavas com um ar assustado. Agora quem se ria era eu.
 - Grita! Sê livre e faz o que te der na real gana!
E tu gritaste o que tinhas aí dentro. Gritámos ambos, e eu quase à beira das lágrimas.
Não, não estava triste. Pelo contrário, sentia-me viva. E isso era algo do qual tinha saudades.
Tirei a roupa e fiquei apenas em roupa interior.
 - Vais apanhar uma constipação. Veste-te.
Quero lá saber. Há outras formas de nos sentirmos vivos, e eu só conseguia assim.
Mergulhei naquele mar onde breu e luz batalhavam.
O frio acalmava-me o corpo. Apenas no frio me pude sentir confortável.
O mesmo frio que durante anos habitou em mim, e que agora escondo na esperança de encontrar calor.
A escuridão enchia-me os olhos. Não via nem queria ver.
Ignorante ao que estava em meu redor.
Nem te procurei. Não te chamei para mim, tu lá sabes o que queres fazer.
Mas eu, eu sou livre.
Rapariga livre.

Deitei-me na areia, ofegante de tanto gritar e nadar.
Tu ficaste acanhado. Nem ai nem ui, quiseste apenas ficar quieto.
Na escuridão do céu distinguiam-se algumas estrelas.
Imponentes, a anos-luz de mim, a brilharem e eu sem poder alcançá-las.
Queria chorar ao ver tanta beleza em breu e frio.


Por enquanto este texto vai estar interrompido. Não encontro inspiração para o acabar.

Lamento.

domingo, 9 de março de 2014

Bagagens.



A mãe andorinha empurra o seu filho fora do ninho para voar.
O pai lobo empurra o seu filho fora da alcateia para se tornar um alfa.
Os pais humanos deixam nos seus filhos a responsabilidade de se ser independente.
E, para mim, chegou a hora.

Tomo agora mais responsabilidades das que tinha quando tinha os meus 16 anos.
Agora sustento um pequeno quarto, com o suor do meu trabalho, e faço a minha comida, pago as minhas contas, trato dos meus assuntos financeiros, sociais, enfim, iniciante vida de adulto.
Dizem que lá fora a vida é madrasta. Ela tentou lixar-me desde o primeiro minuto, mas eu dei-lhe a volta.
Muitos consideram que é injusto os pais fazerem tal coisa e fazem birras para não sair de casa e não assumir as responsabilidades.
Já eu peguei na minha bagagem e fui. Enfrentei o que algum dia teria de enfrentar. A maturidade ninguém a dá de bandeja, ou aprendemos a tê-la levando bons socos ou permanecemos covardes.

A eles agradeço. Estava na minha hora.