Quantos me vêem?

domingo, 25 de setembro de 2011

18 de Dezembro

Quando comecei o 10º ano em Humanidades o meu professor de Filosofia pediu à turma para escrever num papel como nos veríamos daqui a uns anos.
Não vou escrever aqui o que escrevi naquele papel, porque o que lá escrevi está errado.
Isto está certo:

Vejo-me com 25 anos, num apartamento, num fim de tarde, quase noite, a chover.
Apenas um candeeiro aceso, num ambiente calmo e acolhedor.
O telemóvel e o telefone de casa pararam finalmente de tocar com tanto telefonema e mensagem dos colegas de trabalho e de universidade a desejar um feliz aniversário, quando ele é tudo menos feliz.
Uma garrafa de cerveja ou um chá de limão e hortelã, difícil decisão; é escolher entre esquecer aquele dia ou torná-lo no único dia do ano onde me possa refugiar nos meus sentimentos e emoções e afogar-me em lágrimas.
Escolho o chá.
Nenhum presente.
Bebo o chá tranquilamente. Ouço a chuva a bater no vidro da janela, e as as gotas fazem as luzes da cidade brilhar ainda mais.
Sentada com as pernas cruzadas num sofá, de pijama, os meus olhos seguem o percurso do vapor do chá. Sobe e evapora.
Sim, faria 26 anos.
Sentia-me só. Celebrava 26 anos de solidão. 
Bebo um gole de chá.
Uma lágrima cai.
Mais outras caem.
Fracasso, quase que grito, desato a chorar.
Apenas queria esquecer o meu aniversário, esquecer o meu passado, acabar com a solidão que me congelara o coração, viver de novo...
Contenho-me, limpo as lágrimas, bebo de novo tranquilamente o chá, e ao acabar, apago a luz e deito-me.
Adormeço ao som da chuva, na escuridão do quarto, e com duas lágrimas no rosto, com o horrível desejo de nunca ter nascido para um mundo tão cruel.

2 comentários:

  1. Ou talvez estejas acompanhada por alguém, que te dará um presente, e que fará sorrir enquanto as lágrimas caem, e celebrarás o inicio de uma vida.

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