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sábado, 17 de setembro de 2011

Minha Querida.

Lembrei-me de ti.

Desculpa agora tratar-te por tu, e desculpa-me ainda mais por escrever-te através de um computador. Poderia escrever uma carta e guardá-la até que criasse pó e bolor, mas prefiro que o amor que te tive e ainda tenho seja visto por todos.

Tinha eu cerca de 5, 7 anos, não sei, mas lembro-me de ti, e dou graças à sorte que tive de te ter conhecido, uma coisa muito rara nas famílias.

Lembro-me da tua teimosia e vivacidade, apesar da idade que tinhas. Eras já muito velha, mas isso não te impediu de teres um espírito jovem e feliz.

Do que me lembro, é pouco. Mas lembro-me do suficiente para te poder amar perdidamente.
"Vóvó", era assim que te chamava carinhosamente. Brigida ou Brizida, não o sei ao certo, mas era o teu nome.

Sinto-me feliz por ter conhecido a minha bisavó paterna. Mas entristeço-me por saber que partiste numa viagem sem retorno.

Foste, e sei que nunca mais voltarás. E nem sei como foste e muito menos sei o dia exacto da tua partida. Mas desde então choro por ti, ainda me dói a tua partida.

Felizmente sei onde te deixaram, e é uma das minhas prioridades visitar-te pela primeira vez.

Desculpa-me agora ser piegas, mas escrevo-te com os olhos em lágrimas. Foste a primeira pessoa que me ensinou o que é ser forte, e não precisei que o dissesses em palavras: tu eras e continuas a ser para mim o exemplo da força.

Mas agora sou fraca, desculpa.

Há uma foto, a única recordação física que tenho de ti. Nós as duas, no teu jardim, com o teu cão preto com patas brancas. Eu ali, com uma cara inocente e tu a pegares-me a mão com força, não física mas com a força que tinhas em ti. E sorrias. E é esse sorriso que me faz sorrir quando choro.

E essa fotografia está na secretária onde estudo.

Minha querida vóvó, espero que sintas (não vais poder ler, infelizmente) o que te escrevo.

Para finalizar uma carta que nunca terá fim, digo-te algo que ambas sabemos: um dia vou ter contigo.

Até lá, vou viver a minha vida como ela é, e um dia, o dia em que já não houver em mim mais vida para se viver, vou ter contigo.

Não tenho pressa de te encontrar de novo. Dou tempo ao tempo, foi o que fizeste; e encontraste-me.

Até um dia, minha querida vóvó.

Com grande amor e lágrimas
A tua bisneta Agnes.

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