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quinta-feira, 8 de março de 2012

A Criança Não Quer Nascer




Dizem que se enchermos com água uma banheira de modo a podermos meter os ouvidos debaixo de água, voltamos a experimentar o ambiente e o modo como ouvíamos o exterior através do útero da nossa mãe.


Estava triste, e fiz esta experiência. Não foi por vontade mas sim por um momento de oportunidade.
E cheguei a uma conclusão, tão parva como eu.


O recém-nascido chora, não apenas para libertar os pulmões e respirar.
Chora porque já sabe, inconscientemente ou não, do que o Mundo é feito.
Sabe que o mundo perfeito e belo que os seus progenitores e eteceteras criaram para si vai ser um dia desfeito, e pelas primeiras vezes verá a crueldade mundial.
E perceberá que terá de ser cruel e sofrer crueldades para sobreviver.


Gradualmente, parará de chorar, pois sabe que uma vez posto no Mundo terá de se conformar com tal, até ao fim dos seus dias.


O que ajuda a este choro é o sorriso.
Os progenitores sorriem, tal como médicos e parteiras.
Aliás, todos os que sabem que este ou aquele recém-nascido veio à vida e ao Mundo sorriem.
Como se a continuidade da espécie humana fosse boa como está.
Como se se alegrassem com o futuro sofrimento dessa criança.


O que me ajudou a esta conclusão foi quando me apercebi que teria de sair da experiência.
A água fazia-me pressão nos ouvidos, e sentia-me grande demais para estar mais tempo ali.


Como disse. estava triste, e foi quando me libertei que chorei mais.


O recém-nascido sente-se incomodado com o pouco espaço que lhe resta no útero e quer sair.
Mas isso implicaria conhecer o Mundo e suas crueldades e felicidades.
Não tem outra opção...


E é aqui que penso que certo espermatozóide e certo óvulo estavam no sítio errado à hora errada.


Quando acabei a experiência, voltei a ser um recém-nascido.
Chorava e agia como tal.
Com 16 anos renasci.
E não o desejei.


Peço perdão se parecer ser anti-espécie humana, anti-vida, anti-concepção, ou anti-qualquer coisa associada à vida humana.


Mas esta foi uma das minhas reflexões.
E não a quis deixar enterrada no esquecimento.
Já que estou viva, e que aqui me puseram contra a minha vontade, aproveito.



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