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segunda-feira, 2 de abril de 2012

Tenho Saudades... Tuas.

Como era bom estar sentada nas escadas da minha antiga escola, pela tarde, a mirar a paisagem que, embora feita na maior parte por prédios e estradas, ainda tinha um pouco de verdura.
Vê-la só, calma; ao fundo um leve som dos carros a passar, e d'algumas aves e animais a comunicar entre si...


Como adorávamos rebolar por aquela pequena rampa cheia de relva, por onde caíamos, perdidos de riso.
Queríamos lá saber das manchas de relva...
E as tonturas que apanhávamos, mais de tanto que era o riso do que tanta que era a reboladeira...


Como adorava conspirar sobre qualquer assunto de qualquer pessoa, com a minha melhor amiga.
Dizia-se que aquele contínuo de ar estranho levava os cães para a escola depois de esta fechar.
E que casos estranhos ocorriam na escola em locais que nunca desconfiávamos.


E os mexericos.
Aquele que namorava com aquela mas afinal vimo-lo a dar um beijo leve e discreto a outra...
E aquele que andava roto, mas não era pobre, apenas se achava rebelde sendo roto.


E as humilhações que todos nos recordamos, sem sentir humilhação delas.
Sim, a situação podia ser a mais estranha e a mais embaraçadora de sempre, mas quando era contada aos amigos até nós nos riamos.
Foi o exemplo de quando estava na aula de Educação Física na minha antiga escola. Em vez de correr para a frente tive o impulso de correr para trás, e parecia uma louca a fazê-lo. Até ser ainda mais louca: a queda que dei por tropeçar nos meus pés fora fenomenal.
Qualificação de 5 estrelas!, disse-me um colega.


E aquela escola era-me única: havia muitos "cantos" por onde se escolher...
E lá dei o meu primeiro beijo. (Oh, a pessoa que mo deu...)
Tive o meu primeiro amor. (Oh, como bem me lembro de ti! A tua face... quem eras!)
As minhas primeiras amizades. (Nunca vos esqueci!)
Com elas vieram as traquinices, as rebeldias, os dramas, as vontades, as tristezas, os amores e desamores, e tudo o mais.
Havia "cantos" para tudo. Desde os namoricos às conferências sem sentido que tinha com amigos para resolver certo assunto. Ou "assembleias".
E lá era um refúgio dos olhares, ouvidos e bocas do resto do Mundo.


O dia mais doloroso não pertence aos fins de amor, nem às histórias humilhantes pelo qual passei.
Este dia pertence ao dia em que vi pela última vez a minha velha escola.
Sim, admito que chorei.
A escola iria ser renovada, e admito que sempre gostei dela assim, velha e marcada pelo tempo.
E muito do que passei ficara dentro daquelas paredes. E eu teria de deixar essas paredes.
Assim desejei que as paredes falassem, para contar a minha história aos que virão e contar-me as histórias dos que passaram.
Olhei uma última vez para os professores, amigos e colegas, e contínuos que caminharam ao meu lado.
E chorei com eles.


Agora, 6 anos depois, ainda sinto umas saudades de morte.
Tenho a leve esperança de poder regredir no tempo e, por mais parva e imatura que fosse naquela altura, voltar a reviver esses únicos bons velhos tempos.
Fui feliz. Ainda o sou, mas não do mesmo modo.
Mas quero de novo aquela felicidade.


Horácio, tenho saudades tuas.





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